Jerusalém e a guerra dos deuses

Cidade sagrada para árabes, judeus e cristãos, Jerusalém, graças ao seu poder simbólico, tem sido historicamente palco de terríveis guerras e massacres entre os seguidores de Deus, de Jeová e de Alá. Leia a seguir uma síntese do milenar combate entre os deuses pela posse dos lugares santos.


A garganta dos deuses

"Do lado em que o sol ilumina com seus primeiros raios, rolam as ondas ilustres e afortunadas do Jordão. Ao ocidente, o mar Mediterrâneo geme sobre a areia que o detém e o captura. Ao norte está Belém... Belém, o berço de um Deus."
Torquato Tasso (Jerusalém Libertada, 1575)
Imaginem um jardim situado entre dois desertos e próximo a um mar que não tem vida, o Mar Morto. Ao sul dele espalha-se o terrível Neguev e, ao oriente, as áridas areias avermelhadas da Judéia. A escassa água que por ele corre tornou-se através dos séculos motivo de lutas entre todos os povos vindos das terras escaldantes dos arredores. Além disso, entre os ciprestes e rochas que se espalham pelos Montes de Sion, Scopus, Moriah e Oliveiras, encontram-se inúmeras grutas e cavernas que todos supõem serem sagradas. De pedra cinza-claro, a beleza e mistério
O triunfo de Davi
delas exerceu sempre um espantoso efeito de atração sobre os habitantes da antiga Canaã. Pensavam que por aquelas aberturas naturais feitas na rochas os deuses enviavam-lhes augúrios ou advertências. Eram, diziam, as gargantas dos deuses. Os ruídos e estranhos sons por elas omitidos somente cabia aos profetas e aos iluminados de Deus entender.


A capital das 12 tribos
Bem ali, em meio àquele desconsolo de pedras e areia que cercava um riacho, envolvida por um ar de magia e fé, formou-se Jerusalém! Num dos seus primeiros momentos, as lutas pela sua posse entre filisteus politeístas e monoteístas hebreus, conduziram a que o rei Davi, o sucessor de Saul, conquistasse-a dos jebusianos. Supõe-se que ao redor do ano 1000 a.C., o rei-pastor consagrou-a como a capital de todas as 12 tribos de Israel. Sucedido em 970 a.C. pelo seu magnífico filho, o sábio rei Salomão, com seus tributos de 666 talentos de ouro, com quatro mil estábulos para os seus 12 mil cavalos, Jerusalém tornou-se a digna morada de Jeová, em honra de quem o lendário rei, trazendo cedros do Líbano, reformou o Primeiro Templo. O deus dos hebreus deixava de ser uma divindade dos desertos para ir habitar um grande centro. Confirmação da magnificência do poder e da sabedoria do grande rei foi a visita que lhe fez a tão celebrada e bela rainha de Sabá.


Da idade do ouro ao cativeiro
Aqueles bons tempos idílicos do povo de Israel, quando Jeová reinou poderosamente sobre as terras da Palestina, vivem até hoje na memória dos judeus. Foi sua Era de Ouro. Mas então pairou sobre eles uma enorme nuvem vinda do Oriente. A era das delícias encerrou-se bruscamente em 597 a.C., quando o rei babilônio Nabucodonosor II marchou contra Jerusalém. Conforme as terríveis previsões do profeta Ezequiel, que prognosticou a catástrofe, Naburzadã, o general babilônico, para sufocar a revolta de Sedecias, destruiu o templo sagrado e pulverizou a capital no ano de 586 a.C.. Os seus habitantes viram-se reduzidos à escravidão. Os templos e os céus daquela Cidade Santa esvaziaram-se, enquanto a parte mais aquinhoada do povo hebreu foi levada em cativeiro para a Babilônia.